sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

"A comparação entre Portugal e a Grécia já não faz sentido"


Os Especialistas dizem que não faz sentido comparar Portugal e Grécia. O receio de que a Grécia possa vir a abandonar a zona euro levou as bolsas europeias para terreno negativo, tendo também afundado o euro. No entanto, o perigo de uma eventual saída grega já não afetará tanto Portugal como antes. 

Muitos dos problemas da Grécia (elevado endividamento, crescimento anémico e necessidade de reformas estruturais) são os problemas de Portugal, embora numa escala e num contexto diferentes.
A vitória do Syriza nas eleições gregas resulta de um prolongado descontentamento contra os responsáveis pelo desastre económico e social no país: os partidos que têm governado a Grécia e a União Europeia.

Na sua coluna do The New York Times, o economista Paul Krugman defende que o apelo à mudança feito por Alexis Tsipras é de longe mais realista do que aquele que os líderes europeus querem impor à Grécia. “O resto da Europa devia dar-lhe a oportunidade de pôr fim ao pesadelo no seu país”, defende o Prémio Nobel da Economia de 2008.

Krugman defende que se o plano do Syriza tem algum defeito, é o de não ser suficientemente radical. “A redução da dívida e um alívio da austeridade reduziriam o sofrimento económico, mas é duvidoso que sejam suficientes para produzir uma forte recuperação. Por um lado, não é claro o que pode fazer qualquer governo grego a menos que esteja preparado para abandonar o euro, e o povo grego não está preparado para isso”.



Paul Krugman: “Se a troika tivesse sido verdadeiramente realista, teria reconhecido que estava a exigir o impossível”. Foto de Lou Gold

Krugman acrescenta que em Portugal, o caminho com a ruptura com essas políticas, com esses instrumentos, esses mecanismos, passa por uma política que afirme o primado dos interesses nacionais, que afirme a defesa da soberania e independência nacionais, face a quaisquer outros interesses.

Líderes europeus pediram o impossível à Grécia
Na opinião de Krugman, a grande vitória do Syriza deve-se ao facto de os líderes europeus terem estado a pedir o impossível. “Dois anos após ter começado o programa da Grécia, o FMI procurou exemplos históricos de programas do tipo do da Grécia, tentativas de pagar a dívida através da austeridade sem qualquer redução importante da dívida ou inflação, que tivesse obtido sucesso. Não encontrou nenhum.”

O facto é que os planos da troika foram totalmente irrealistas, não os de Tsipras. Krugman recorda o memorando de entendimento, que considera um “documento notável, da pior forma”, para afirmar que o seu conteúdo era uma “fantasia económica”, apesar de querer parecer muito realista. O povo grego tem vindo a pagar o preço destas fantasias, afirma.

Krugman lembra as projeções do memorando, que assumiam que a Grécia podia impor uma austeridade brutal com um pequeno efeito sobre o crescimento e o emprego. “A Grécia já estava em recessão quando o acordo foi assinado, mas as projeções assumiam que esta queda seria invertida em breve”.

Pesadelo económico e humano

O que realmente aconteceu foi um pesadelo económico e humano, aponta o economista. “A Grécia só atingiu o fundo do poço em 2014” e nessa altura já estava mergulhada na depressão, com o desemprego nos 28% e o desemprego jovem a chegar aos 60%. E a recuperação em curso atualmente “mal se vê”.

“Se a troika tivesse sido verdadeiramente realista, teria reconhecido que estava a exigir o impossível”, conclui Krugman.

A Grécia volta a ser o centro das atenções, bem como uma eventual saída da zona euro. Este receio atirou as praças europeias para terrenos negativos e afundou o euro, mas nada que não se recupere.

O economista sénior do Berenberg, Christian Schulz, garantiu ao Jornal de Negócios que “é óbvio que se a Grécia sair da zona euro de forma desordenada, os mercados ficarão agitados por algum tempo noutros países vulneráveis”.

Mas, ressalva, “a zona euro tem em prática uma máquina de resgate bem oleada”, acrescentando ainda que esta “máquina” deverá ser “suficiente para proteger até as maiores economias”.

Mais concretamente sobre as consequências que a saída da Grécia da zona euro traria para Portugal, o diretor de economia global do ING é otimista.

Robert Carnell começa por lembrar que os países da periferia “têm feito progressos muito mais significativos para restaurar o equilíbrio orçamental e estrutural”.

Por esta razão, sublinha, “é justo dizer que Portugal está mais exposto [à turbulência grega] do que outros países”, contudo, assegura que “ainda assim está numa posição bem melhor do que a da Grécia”.

“A comparação entre Portugal e a Grécia já não faz sentido”, atira. 

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